Muitos educadores financeiros defendem que você só pode investir depois de já ter uma reserva de emergência de aproximadamente seis meses. Ou seja, seis vezes o valor que gasta com suas despesas ao longo do mês, como contas, lazer, entre outros guardado em uma aplicação de renda fixa com liquidez diária. Dessa forma, caso algum imprevisto acontecesse, você estaria seguro.

O problema desse pensamento é que muitas pessoas se sentem presas para começar a investir em novas modalidades antes de acumular um montante alto. Sendo assim, podem estar perdendo oportunidades de se tornarem investidores muito melhores – e, consequentemente, ganharem ainda mais dinheiro.

Sempre recebo várias perguntas sobre como proteger seu patrimônio ou como começar a investir, quando devem começar a colocar dinheiro em outros tipos de investimento e foi até mesmo partindo de um e-mail que recebi que resolvi falar sobre esse assunto por aqui e no meu canal

Qual a importância da reserva de emergência?

É claro que a reserva de emergência é importante. Então já adianto que, uma parte do seu dinheiro deve estar sim em aplicações seguras e disponíveis para serem resgatados a qualquer dia. Por três motivos:

1) Para você passar tranquilamente por imprevistos;

2) Para que você possa aproveitar oportunidades (negociações que você pode comprar à vista com desconto, por exemplo);

3) Para você aproveitar oportunidades de compras em outros investimentos;

Mas a questão aqui é: todo mundo que quer começar a investir, precisa ter guardado seis meses dos seus próprios custos? Vamos entender isso melhor.

O que é uma emergência?

Quando falamos de reserva de emergência, o primeiro problema que surge é: afinal, o que é uma emergência? Comprar um carro, uma roupa ou tênis não é. Ter acesso a um investimento com liquidez diária, então, pode bagunçar nossas prioridades, dificulta até mesmo manter esse investimento, o que dirá fazê-lo crescer.

Mas, se seu carro quebra, por exemplo, isso deve ser considerado uma emergência? Para algumas pessoas, sim; para outras pessoas, esse pode ser um bom momento para repensar se ele realmente cabe no seu padrão de vida. O dinheiro que você investiria em manutenção não poderia ser remanejado? Não seria melhor passar a andar de transporte público e economizar com gasolina, estacionamento, revisão e todas as outras despesas que um automóvel? Cabe, de fato, um carro na sua rotina financeira?

Muitas vezes nos vemos presos a vários hábitos por pura comodidade sem questionar se eles realmente fazem sentido na nossa vida. A regra de ouro é poupar e investir todos os meses: não sacrifique seus investimentos por desejos imediatistas. Tenha, sim, uma reserva de emergência, mas o principal é um padrão de vida adequado.

Sendo assim, vou explicar em três pontos a seguir por que considero que fazer esse “colchão” de seis meses não resolve seus problemas. E você vai entender que não deveria seguir esse conselho dos seis meses completamente à risca.

Mão de homem em cima de um planejamento para representar alguém planejando a reserva de emergência.
Photo by William Iven on Unsplash

Selic em queda

Os investimentos de renda fixa se baseiam na taxa Selic, taxa básica de juros da economia brasileira. Em tempos melhores, ela já esteve por volta de 14%. Hoje, ela segue por volta de 4% ao ano.

Isso quer dizer que, investindo em aplicações conservadoras de renda fixa como Tesouro Direto ou o Nubank, seu dinheiro vai demorar muito mais para crescer. Ou o valor inicial para sua reserva de emergência já terá que ser alto, o que não costuma ser a realidade da maioria das pessoas. O que nos leva de volta, portanto, ao cenário de que, quanto mais tempo você demora para atingir o valor necessário para alcançar a reserva, mais tempo irá demorar para chegar ao ponto de começar a investir em modalidades diferentes e, então, ser um investidor melhor.

Motivação

O que faz uma pessoa querer pegar seu dinheiro e não gastar, mas investir, é, claro, o retorno. Uma vez que ela percebe que seu investimento não cresce, sua motivação diminui imediatamente e o Brasil vai perdendo, aos poucos, a pequena parcela da população investidora que conquistou.

País acostumado a investir desde cedo é aquele que dá valor ao próprio dinheiro, que consome com responsabilidade. O Brasil tem pouco histórico de investidores: precisamos fazer com que esse número suba e, se estagnamos esses poucos em um tipo com pouca chance de ganhos significativos, eles logo irão desistir de se manter investindo.

Aprendizado

Você só vai aprender a ser um bom investidor quando começar a fazê-lo por conta própria. Para entender melhor o seu perfil e quais aplicações funcionam para você, é preciso tentar. Pode ser que, para sempre, você seja um investidor conservador e não há problema nenhum nisso: o importante é que você conheça as opções que há no mercado para que, se for para ser conservador, seja um conservador consciente; e é justamente no início, quando você não tem muito o que perder, o momento de tatear um pouco mais para que até mesmo dentro desse perfil você possa se diversificar.

Seu dinheiro só irá crescer variando sua carteira de investimentos. É importante, sim, reservar uma parte para aplicações mais seguras e ter, portanto, sua reserva de emergência. Mas ela não deve ser, de forma nenhuma, a base única do seu investimento. E sim mais um dos braços dele.

A ideia é que, se for para você perder algo, seja no início, quase como se você estivesse pagando por um “treinamento na prática”. À medida que você tiver mais dinheiro para investir, o risco de perdê-lo poderá aumentar na mesma proporção se você deixar para aprender somente quando chegar a esse estágio.

Onde deixar a reserva de emergência:

E agora, outra dúvida que sempre surge, onde colocar o dinheiro da reserva de emergência? Para decidir isso, você precisa analisar: rentabilidade, liquidez e a segurança. Dificilmente você vai conseguir ter os três com sucesso. Mas ao menos dois deles são necessários. Aqui, os dois pontos essenciais para a reserva são: a liquidez, ou seja, poder resgatar o dinheiro a qualquer momento. E também a segurança, não correr risco de perder o dinheiro. A rentabilidade nesse caso não será das maiores entre tantos outros tipos de investimentos. Mas, analise as possibilidades e veja qual rende mais.

Uma das opções que mais tenho gostado e que eu mesmo utilizo é o Nubank. Já falei mais sobre as vantagens deles para investidores em um artigo aqui no blog e no vídeo abaixo.

Veja também esse vídeo para conferir outras alternativas.

Conclusão

Para resumir, cada pessoa tem necessidades diferentes e padrões de vida diferentes. Se você está com medo de começar a investir ou, ao contrário, está muito empolgado, siga sempre a máxima de proteger seu patrimônio. Mas sem sacrificar a possibilidade de aumentar seus ganhos, diversificando sua carteira e intensificando seu aprendizado. E claro, tenha uma reserva de emergência de acordo com a sua realidade!

Reveja seu padrão de vida e seja adequado e honesto com ele. Poupando e investindo todos os meses, sem depender somente dos rendimentos do que já foi aplicado. Mas sem esquecer de respeitar, principalmente, seu perfil de investidor. Sempre haverá a mais nova fórmula certa para ser rico – e nunca é simples assim. E não se esqueça que, se estiver começando, seja, sim, um pouco mais conservador até entender um pouco mais com o que você se sente confortável. Isso é primordial!

O que você pensa sobre reserva de emergência? Já tem a sua?